domingo, 31 de maio de 2009

O Problema da Afetividade em Vygotsky

TRATAREI HOJE, DE ACORDO COM VYGOTSKY DAS QUESTÕES RELATIVAS ÀS DIMENSÕES COGNITIVA E AFETIVA DO FUNCIONAMENTO PSICOLÓGICO


O problema da afetividade em Vygotsky


Marta Kohl de Oliveira
As dimensões: cognitiva e afetiva do funcionamento psicológico têm sido tratadas ao longo da história da psicologia como ciência, de forma separada. Numa tentativa de recomposição do ser psicológico completo, no entanto, percebe-se uma tendência de reunião desses dois aspectos. As situações concretas da atividade humana, objeto de interesse de áreas como a educação, por exemplo, pedem uma abordagem mais orgânica do ser humano como forma de compreensão das lacunas explicativas ao enfrentarmos indivíduos e grupos em situações reais de desempenho no mundo.
As abordagens de Vygotsky tratam de aspectos referentes ao funcionamento cognitivo, tais como: A centralidade dos processos psicológicos superiores no funcionamento típico da espécie humana; o papel dos instrumentos e símbolos culturalmente desenvolvidos e internalizados pelo indivíduo, no processo de mediação entre sujeito e objeto de conhecimento; as relações entre pensamento e linguagem; a importância dos processos de ensino-aprendizagem no promoção do desenvolvimento; a questão dos processos metacognitivos. Vygotsky poderia ser considerado um cognitivista, em termos contemporâneos, uma vez que se preocupou com a investigação dos processos internos relacionados à aquisição, organização e uso do conhecimento e, especificamente, com sua dimensão simbólica.
Vygotsky nunca usou o termo ‘cognição’. Na verdade, apenas recentemente é que um equivalente mais preciso de ‘cognição’ entrou no léxico da psicologia soviética, com o termo ‘Kognitivii’. Os termos utilizados por Vygotsky para designar processos que denominamos cognitivos são “funções mentais” e “consciência”. “Vygotsky usou o termo ‘função mental’ para referir-se a processos como pensamento, memória e atenção. Ele fez uma distinção básica entre as funções elementares, como atenção involuntária e funções mentais superiores, como atenção voluntária e memória lógica. Segundo ele, não há uma maneira de compreender nenhuma dessas funções mentais separadamente, principalmente as superiores. Sua verdadeira essência é serem inter-relacionadas com outras funções. A sua compreensão do termo ‘consciência’, por exemplo, remete-nos ao afeto e ao intelecto... os processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem estão inteiramente enraizados em suas inter-relações e influências mútuas.
Em sua teoria, o lugar do afetivo do ser humano é visto de acordo com as perspectivas, monista e holística. De com a perspectiva monista: que se opõe a qualquer ruptura das dimensões humanas como corpo/alma, mente/alma, material/não-material/, pensamento/liniguagem. Já a perspectiva holística, se opõe ao atomismo, ao estudo dos elementos separados do todo, propondo a busca de unidades de análise que mantenham as propriedades da totalidade. Sendo que tanto o monismo quanto a abordagem globalizante buscam a pessoa com um todo e, portanto, não separam afetivo e cogntivo como dimensões isoláveis.
Vygotsky menciona que um dos principais defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais, de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da unidade entre esses processos. Segundo ele, o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção. Nessa esfera estaria a razão última do pensamento e, dessa forma, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende sua base afetivo-volitiva. Vygotsky critica a separação do intelecto e do afeto, diz: “enquanto objetos de estudo, é uma das principais deficiências da psicologia tradicional, uma vez que esta apresenta o processo de pensamento como um fluxo autônomo de ‘pensamentos que pensam a si próprios’, dissociados da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. Esse pensamento dissociado deve ser considerado tanto um epifenômeno sem significado, incapaz de modificar qualquer coisa na vida ou na conduta de uma pessoa, como alguma espécie de força primeva a exercer influência sobre a vida pessoal, de um modo misterioso e inexplicável. Assim à origem e à causa de nossos pensamentos, fecham-se as portas a qualquer estudo mais fecundo do processo inverso, pois, a análise determinista exigiria o esclarecimento das forças motrizes que dirigem o pensamento para esse ou aquele canal. Justamente por isso a antiga abordagem impede qualquer estudo fecundo do processo inverso, ou seja, a influência do pensamento sobre o afeto e a volição.
“A análise em unidades indica o caminho para a solução desses problemas de importância vital. Demonstra a existência de um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade ao qual se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade” ( Vygotsky, 1989,PP.6-7).

domingo, 10 de maio de 2009

Abordagem Sociocultural de Vygotsky

A abordagem sociocultural tem como representante máximo Vygotsky, que se empenha em estudar a consciência, não se limitando às contribuições de Pavlov( teoria da reflexologia, do condicionamento clássico). Vygotsky dialoga com o Behaviorismo, com a Gestalt, com Piaget. Procura produzir algo novo, trabalha no sentido de encontrar um método que trate a consciência de maneira objetiva e concreta, tendo como referência os meios que utilizamos para construir o conhecimento. Para ele, o que nos diferencia dos outros animais é a nossa capacidade de mediatizar nossas relações, assim nossos processos psicológicos superiores (percepção, memória lógica, atenção voluntária, pensamento verbal, linguagem, que já foram aqui tratados), começam a se formar nas relações sociais pela/ na linguagem.

A nossa coonstituição humana, conforme já vimos, segue uma rota que vai do plano interpessoal para o intrapessoal, ou seja:

(...) Segue duas linhas qualitativamente diferentes de desenvolvimento, diferindo quanto à sua origem: de um lado, os processos elementares, que são de origem biológica; de outro, as funções psicológicas superiores, de origem sociocultural. A história do comportamento da criança nasce do entrelaçamento dessas duas linhas. ( VYGOTSKY, 1984,P.52).

Através do processo de internalização da cultura pelas crianças, caracterizado como um processo social que se faz pela mediação da linguagem. Essa abordagem procura superar as dicotomias entre indiviaul/social, natureza/cultura,biológico/social.

Vygotsky, portanto, difere seu pensamento do behaviorismo , do piagetiano e do da Gestalt, uma vez que não admite a predominância do objeto (Behaviorismo), nem a predominância do sujeito(Gestalt), na relação sujeito/objeto. Aproxima-se de Piage quando defende a relação de interação entre sujeito e objeto na construção do conhecimento, mas distancia-se daquele quando diz que essa relação não é uma relação direta, mas mediada pelo outro, pela linguagem, pela cultura. É nessa relação medidade que vamos nos transformando de seres biológicos em seres histórico-culturais, pois para Vygotsky o biológico não é suficiente par nos transformar em seres humanos; portanto, é na relação com a cultura, com a linguagem e com o outro que nos constituímos seres humanos. Sendo assim, o meio físico e o sociocultural é constitutivo do ser humano e não apenas o influencia( como afirma Piaget), e nem sozinho produz a humanidade(como afirma o Behaviorismo).
Desse modo, pouco a pouco, os indivíduos "vão se apropriando dos modos de funcionamento psicológico, do comportamento e da cultura, enfim, do patrimônio histórico da humanidade e de seu próprio grupo social".( Rego, 1995,p.87). Ao internalizar os processos culturais, os indivíduos não precisam da mediação;tornam-se independentes, constituindo assim um modo próprio de ser, de pensar e de sentir, tendo a fala(entendida como instrumento ou signo) como organizadora, preponderante, das funções psicológicas superiores e das atividades práticas.Nesa perspectiva, a criança reconstrói individualmente os modos de viver, sentir e de pensar da humanidade e aprende a organizar seus próprios processos mentais.

Chegamos entao em condições em condições de discutir um empasse: Desenvolvimento independete de aprendizagem aprendizagem? Para a abordagem sociocultural, aprendizagem e desenvolvimeno são processos distintos, porém interdependentes, sendo que a aprendizagem tem a função de despertar procesos internos de desenvolvimento que ainda não se manifestaram nos indivíduos. Portanto, o "bom ensino é quele que se adianta ao desenvolvimento", e mais uma vez nos leva a ressignificar o valor das interações sociais na sala de aula. Assim podemos redimensionar a nossa prática prática escolar, o sujeito que aprende é aquele interativo , ativo e único no seu proceso de construção do conhecimento. Processo que o sujeito, não recebe passivamente, não se restringem à atividade espontânea e individual do sujeito, que apesar de ser importante, não é suficiente para a apropriação dos conhecimentos acumulados pela humanidade. A intervenção do professor é fundamental, para tanto, no processo de construção do conheicmento, como alguém que tem mais sobre assunto, assim como as trocas entre crianças, que são importantes no processo de ensino aprendizagem.

Desenvolvimento Cultural de Funções Psicológica Superiores: a Percepção

Assim como a memória e a tenção, a percepção também não age de forma isolada. De acordo com Oliveira(1993) " ao percebermos elementos do mundo real, fazemos inferências baseadas em conhecimentos adquiridos previamente e em informações sobre a situação presente, interpretando os dados perceptuais à luz de outros conteúdos psicológicos"(p.74).
No contexto de sala de aula, ou em casa, por exemplo, quando entregamos para as crianças pequenas que ainda não dominam a leitura e a escrita, um texto com ilustração, a tendência é que elas descrevam as situações ilustradas a partir dos conhecimentos que já possuem sobre as imagens. Caso apresentemos à criança, por exemplo, uma ilustração que tenha um peixe, e que tenha escrito, Nemo é um lindo peixe, ela tende a ler o peixe está nadando. Ela não percebe detalhes de imediato e traduz o todo que viu em primeiro lugar. Para que perceba esse todo terá que prestar atençao ao desenho, memorizá-lo, teve que usar de maginaão par dizer o que estava escrito etc. Percebe, da mesma forma quando está aprendendo a ler e a escrever, perceber as palavras como um todo, par depois analisar detalhes como sílabas, letras e sons. Assim, no início do processo de alfabetização, as crianças inventam palavras para escrever e um todo com combinações diferenciadas. Por exemplo, se a criança se chamar Ana e a professora pedir a ela que escreva peixe, ela então tende a escrever essa palavra usando as letras de seu próprio nome, formando um todo sem que ainda saiba de suas partes.

Ao aprender a falar acontece algo semelhante, percebe as palavras como um todo, criando significados para elas nos contextos em que vive. Chamará a todos os bichos de quatro patas de au-au, demonstra que ainda não tem informações suficientes par distinguir um do outro, percebendo ambos como semelhantes.

Dessa forma, para Vygotsky, as funções psicológicas superiores, típicas do ser humano são, por um lado, apoiadas nas características biológicas da espécie humana e, por outro lado, construídas ao longo de sua história social.Não existe ser humano fora das relações sociais, " é enquanto ser social que o homem cria suas formas de ação no mundo e as relações complexas entre as funções psicológicas superiores" (OLIVEIRA, 1993, p. 78).

Entretanto, para que ocorra o citado, é necessário que o ser humano interiorize as formas sociais e culturais, ou seja, obtenha o domínio progressivo das instrumentos culturais e a regulação de seu comportamento. Vygotsky descreve duas direções para o processo de internalização das funções psicológicas superiores. A primeira direção é chamada de interpessoal, aquela que ocorre entre pessoas e, a segunda, é chamada de intrapessoal, que ocorre dentro das pessoasl. A esse proceso ele chama de "internalização, a reconstrução interna de uma operação externa"(VYGOTSKY, 1989,p.63). Segundo as palavras dele, para que o ser humano possa atingir o nível de comportamento ele precisa combinar instrumentos e signos na atividad psicológica.

Desenvolvimento Cultural de Funções Psicológicas Superiores: a atençao

Vygotsky (1934,1996,1989) não estudou as funções psicológicas superiores de maneira isolada, mas relacionadas uma com as outras. Segundo ele, uma função não funciona sozinha, precisa das outras para se desenvolver. É essencial no desenvolvimento humano. Os seres humanos aprendem a controlar sua atenção, através da invenção dos meios culturais, ou instrumentos para fazer isso.
Conforme coloca Vygotsky, a atenção desempenha a função mais importante da vida das pessoas e trata do comportamento, em um contexto x que permite-nos discernir e ordenar ações mais importantes. A atenção pode ser observada desde a idade mais tenra do ser humano, através de um estímulo externo como uma luz brilhante, um ruído intenso, a criança olha ou se assusta, chora, estremece etc. Essa forma de atenção é por ele chamada de instintivo-reflexiva. É o tipo não-intencional, não-volitivo, uma vez que qualquer estímulo forte e repentino atrai imediatamente a atenção da criança, reconstrói seu comportamento. ( VYGOTSKY E LURIA, p. 195). Porém, segundo o autor, dessa forma de atenção natural não surge uma forma estável de comportamento organizado. Para que surja a forma de atenção voluntária numa sociedade que faz exigências para a realização de tarefas determinadas, a atenção involuntária passa a ser desnecessária e exige o surgimento de outra forma de atenção, ou seja, da atenção voluntária que é artificial e cultural. Assim, nós professores podemos perceber que é a condição necessária para se realizar qualquer trabalho ou tarefa escolar.

A transição, de uma forma de atenção para outra requer a passagem pelos gestos significativos e pela fala, segundo Vygotsky e Luria( 1996). A mãe ou qualquer outra pessoa que cuida da criança, ao nomear um objeto esse ganha destaque e chama a atenção da criança para ele. Nesse contexto, pela primeira vez, o processo de atenção começa a funcionar como uma operação cultural, mediada pelo gesto significativo e pela fala. Porém, só se tornará uma função real quandoo a criança dominar os recursos de criar os estímulos adicionais que centrem sua atenção em cada um dos componentes de uma situação e eliminem tudo mais que se esncontra em segundo plano.

Mesmo tendo adquirida a tenção voluntária, os mecanismos da atenção involuntária continuam presentes no ser humano, pois, de acordo com Oliveira(1993), " quando escutamos nosso proprio nome, por exemplo, reagimos imediatamente, focalizando nossa atenção de forma não deliberada" (p. 76).

"devemos buscar traços específicos da atenção precisamente em operações com determinados estímulos e signos que tornam o processo mediado e que desempenham um papel de denotação, concentração e diferenciação" ( VYGOTSKY E LURIA, 1996,P. 200).

Quer saber mais?

MOLL, Luis. Vygotsky e a Educação: implicações pedagógicas da psicologia sócio-histórica. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996.
VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 3ª ed., 1989.
VYGOTSKY,L.S.& LURIA, A.R. Estudos sobre a história do comportamento: símios, homem primitivo e criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996..

vygotsky e os Processos Psicológicos Superiores

Olá pessoal, conforme prometi, hoje escreverei a respeito dos Processos Psicológicos Superiores. Esse é um conceito básico na obra de Vygotsky.

Vygotsky e Luria (1996) pesquisaram como uma criança de 5 ou 6 anos e uma de 8 ou 9 anos utilizam a memória e, o que constataram, foi que as mesmas utilizam de diferentes modos a memória. Aos 6 anos a criança lembra-se de determinado material de imediato, naturalmente, já a outra para tal, faz uso de técnicas, de métodos para memorizar o material do qual ela precisa guardar.

Aos 8 ou 9 anos o novo material é relacionado com a experiência anterior, a criança vale-se de todo o sistema de associações, às vezes realiza algumas anotações e assim por diante. Assim podemos perceber que a criança mais velha sabe utilizar a memória e essa transição de formas naturais de memória para formas culturais é o que constitui o desenvolvimento da memória da criança para o adulto. A criança se utiliza de várias formas para o registro, como por exemplo: fazer uso de um pedaço de papel ou do computador, nós em barbantes. Dessa forma está manipulando os objetos externos para conseguir o controle do processo interno de memória, assim estará fazendo a transição de um sistema de rememoração imediata para um sistema de notação, que resultará em aumento significativo da eficiência da memória.

"O sistema de notação, então, resulta no desenvolvimento da memória artificial, mediada por instrumentos e signos. Esse tipo de memória não significa melhora da memória natural, mas sim substituição de métodos primitivos por outros, mais eficientes, que aparecem no processo de evolução histórica( VYGOTSKY E LURIA, 1996).

Assim, lanço a pergunta, pense na resposta antes de ler a mesma.
Qual a força que saber dessa informação tem para nós, enquanto professores?

A resposta, é nada mais, nada menos que: A aprendizagem da leitura e da escrita nos capacita a escrever e utilizar-se desse processo de escrita como suporte para a memória, o que implica em afirmar que a criança, ou a pessoa que tem esse aprendizado efetivado, terá esse processo de leitura e escrita como um suporte para a memória. Percebe a importância dessa aquisição da leitura e escrita para a prática do dia a dia? A nossa capacidade de memorização a partir de tudo isso pode ser ampliada e a mente estará liberada para muitas outras coisas. " A escrita é, basicamente, um suporte para a memória."

FONTE: Pós- graduação Lato Sensu em Psicopedagogia - FUMEC( 2005).